As coisas mais simples não precisam ser conquistadas, não precisa de suor derramado para se ter. As coisas mais simples fazem da nossa vida uma coisa mais leve, sem compromissos, sem preocupações, sem tempestade em copo d'água.
Para que se ter uma vida cheia de riquezas materiais se não temos a riqueza interior? De que adianta ter milhões monetários e não ter um único amigo com quem compartilhar? De que serve as melhores decorações interiores se na nossa casa não temos uma família para observá-la? O que será do nosso futuro se temos o melhor emprego, as melhores roupas, os melhores perfumes, os melhores sapatos e o melhor carro se deixamos tudo isso guardado para uma ocasião especial? Que ocasião tão especial é essa que não nos permite sermos livres para usarmos o que queremos quando queremos? E se essa ocasião nunca chegar? Será que valeu a pena ter e não ser aproveitado? Ser rico não é ser feliz, não é ser simples! Ser simples e ter a simplicidade estampada no rosto e nos atos é ser rico! A verdadeira riqueza está dentro de nós e nunca soubemos aproveitar tudo o que ela nos oferece.
Nós queremos de mais da vida. Exigimos coisas que não serão duradouras pelo simples fato de um bem estar momentâneo. A vida não exige nada de nós, por que exigimos tanto dela então? Por fim acontece que desejamos de mais e não conseguimos ter nada, ou até temos, mas acabamos perdendo tudo por um simples acaso. Devemos desejar uma única coisa de cada vez. Tudo tem seu tempo, tudo tem sua hora exata de acontecer. Tudo pode acontecer da forma mais simples possível e ser um momento inesquecível.
A nossa simplicidade faz de nós pessoas mais leves, pessoas menos despreocupadas. A nossa simplicidade faz de nós pessoas mais amigas, mais sinceras, mais confiáveis. A nossa simplicidade demonstra o nosso verdadeiro caráter, o nosso verdadeiro comprometimento com a vida, com as pessoas, com os momentos. Nós vivemos em um mundo onde o essencial é aquilo que é material, mas na verdade deveríamos viver em um mundo onde o essencial fosse invisível aos olhos (como diria o autor do livro O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry). O essencial está no nosso coração, no nosso pensamento, nos momentos onde fomos felizes. O essencial está na simplicidade de se viver um dia de cada vez, sem se apegar a bens materiais, sem querer que tudo seja exatamente do jeito que a gente quer. A simplicidade está nas coisas antigas, onde ficávamos ansiosos para ver uma foto revelada para saber se ela ficou boa, onde as brincadeiras reuniam um grande grupo de amigos, onde nos reuníamos para jogar conversa fora na rua levando um ventinho no rosto, olhando as estrelas, escutando o barulho das ondas batendo nas pedras. Hoje tudo é material, as fotos podem ser vistas todas de uma vez só, podem ser apagadas, podem ser editadas, podem ser divulgadas para qualquer um ver a qualquer hora e assim acaba tirando a possibilidade de encontrar aquelas pessoas das fotos uma outra vez para vê-la reveladas. As brincadeiras de hoje em dia são todas diferentes! Não se tem mais aquela algazarra no meio da rua, não se escuta mais aquela gritaria, aquele divertimento de tempos passados. Não rimos mais com facilidade, não conversamos mais pessoalmente, não vemos mais aquelas pessoas com as quais tanto tempo vivemos juntas. Hoje tudo é material, tudo é superficial... Os grandes momentos estão nas coisas mais simples da vida, num simples sorriso, num simples olhar, num simples abraço, num simples carinho. Um aperto de mão hoje em dia é difícil de se ver. Um beijo já não é mais tão esperando como antigamente, não tem o mesmo momento especial que deveria ter! Hoje as coisas são SUPERFICIAIS!
Hoje eu quero viver mais, correr mais, sair mais... Pular, brincar, sorrir, cair e levantar feliz e não de cara emburrada! Hoje eu quero me divertir com coisas antigas, com coisas simples!
Hoje eu quero deixar de ser ambicioso de mais e ser mais simples, ser mais amigo, ser mais presente.
"Hoje eu gostaria de me livrar dos meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa de cada vez. Abandonar inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem a pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão. Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará quando eu menos esperar." (José Fernando Dantas de Matos)
Marcelus Victor